segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

No princípio era a rosa

A teoria da conspiração é um discurso circular que não leva a lado nenhum: tu conspiras a minha conspiração acerca da tua conspiração.
O aproveitamento politico era inevitável, do que é que se estava à espera, que a malta dissesse : isso não deve ser nada, de ser algum equívoco, de certeza que não é nada com ele. Os esqueletos no armário sempre foram e sempre serão instrumentalizados.
Ora tendo em conta os antecedentes deste caso, o que se estranha é Sócrates não ter um plano de contingência preparado para esta ocasião. Nas suas reacções apareceu sempre titubeante e hesitante, dando a ideia de estar sempre a ser ultrapassado pelas circunstâncias, algo de surpreendente num político experiente.
Ora, o que aqui se apresenta não tem a ver com a tramitação processual do processo Freeport, que ao que tudo indica não tem irregularidades.

Os pontos sensíveis, na minha opinião são estes:
1- Há uma evidente aceleração do andamento do processo a partir da auto-demissão de Guterres na sequência da derrota nas autárquicas.
2- Houve um envolvimento directo do Ministro, unicamente a partir desse momento.
3- Esse envolvimento decorreu da intervenção do seus familiares no processo, ou não?
4- A intervenção envolveu contrapartidas financeiras?

Quanto aos primeiros dois pontos Sócrates não deveria ter titubeado, assumindo claramente que de facto, após a demissão de Guteres, sabendo que se encontrava a prazo queria, antes de terminar a legislatura, concluir todos os processos que tinha em mãos, em especial este, que já se arrastava há alguns anos e que se encontrava na fase final. Resta saber se se passou o mesmo com casos semelhantes. No entanto, esta postura poderia ter esvaziado muita conversa centrando o problema nos dois pontos seguintes.

Aqui, não impedindo alguns estragos, poderia sempre alegar que toda a gente tem tios e sobrinhos e que não é pelo facto de ele ser ministro que os familiares deixam de exercer as suas actividades. Mas que a intervenção que estes tiveram foi marginal, até porque o procedimento que ele ia ter neste caso já estava decidido.
Por último, se tivesse existido alguma contrapartida financeira à intermediação dos seus familiares, isso era um problema deles, que não lhe compete averiguar. Ninguém está livre de ter ovelhas ranhosas na família. Não impedindo que saísse chamuscado, desta forma teria minimizado os danos e contido a inflamação que este caso provocou.

Mais do que se atacar o MP, os jornalistas e a oposição, o que serve mais para consumo interno, o que se deve exigir ao PM é um discurso mais escorreito, dirigido ao país, em que assumindo claramente as responsabilidades políticas das suas decisões se descartava de todo o ruído subjacente. Lembre-se que tanto com Nixon, como com Clinton, o que lhes causou o descrédito, não foi o facto em si, mas a incapacidade que revelaram de o assumir claramente. O povo mais do que a incompetência não perdoa a mentira, como tão bem Aznar o sabe.